Por: Anderson Haas Poersch – Meteorologista Equipe FieldCrops

Figura 1- Precipitação durante o mês de outubro de 2019 no Rio Grande do Sul. Fonte dos dados: INMET. Imagem: Anderson Haas Poersch
No mês de outubro de 2019 tivemos altos acumulados de chuva em praticamente todas as áreas do Rio Grande do Sul (RS), justamente no mês que historicamente mais chove no RS. As áreas que tiveram os maiores acumulados foram as regiões Central, Campanha e Zona Sul com acumulados superiores a 300 mm e sendo que em algumas áreas acumulou-se valores próximos a 500 mm (Figura 1), ocasionando problemas para a implantação das principais culturas de verão, sendo os principais: excesso de umidade no solo que inviabilizou a entrada dos tratores e plantadeiras, e as lavouras que foram semeadas, tiverem problema com o estabelecimento das plantas por morte ocasionada por doenças de solo.

Figura 2- Precipitação durante o mês de novembro de 2019 no Rio Grande do Sul. Fonte dos dados: INMET. Imagem: Anderson Haas Poersch
O mês de novembro/2019 pode ser dividido em dois momentos no RS. A primeira quinzena houve um aporte maior de umidade, favorecendo a manutenção de sistemas que favoreceram as chuvas mais amplas sobre o estado. Na segunda quinzena a umidade começou a migrar em direção a região Central do Brasil, ocasionando períodos mais secos no RS. Com as chuvas da primeira quinzena do mês tivemos vários locais do estado atingindo a média esperada para esse período principalmente em áreas do oeste e norte com acumulados superiores a 200 mm, diminuindo os acumulados em direção ao leste do estado (Figura 2). Um número maior de dias secos, ou sem chuva permitiu a implantação da maioria das culturas agrícolas de verão, principalmente a soja e o arroz, porém devido a irregularidade das chuvas muitas lavouras tiverem problema na emergência tendo que ser replantadas.

Figura 3- Precipitação durante o mês de dezembro de 2019 no Rio Grande do Sul. Fonte dos dados: INMET. Imagem: Anderson Haas Poersch
No mês de dezembro/2019 as precipitações foram de forma mais localizadas e mal distribuídas, ou seja, houve uma menor frequência de sistemas que favorecessem a ocorrência de precipitação, nesse mês houve um agravante que foi um bloqueio atmosférico no final do mês que favoreceram uma histórica onda de calor com recordes históricos. Maiores acumulados foram registrados em áreas do Oeste e Norte do RS com valores próximos a 80 mm (Figura 3). A cultura do milho foi uma das que mais foram prejudicadas, causando uma considerável redução na produtividade e consequentemente na produção do estado.

Figura 4- Precipitação durante o mês de janeiro de 2020 no Rio Grande do Sul. Fonte dos dados: INMET. Imagem: Anderson Haas Poersch
Em janeiro/2020 houve maior disponibilidade de umidade do que os meses anteriores no RS, favorecendo bons acumulados principalmente nas regiões Central, Oeste e Norte do estado (Figura 4). Essas chuvas de janeiro favoreceram o desenvolvimento principalmente da cultura da soja.
Em fevereiro/2020 o quadro de chuvas mudou para o estado gaúcho, ou seja, as chuvas voltaram a ficar escassas aqui no estado e frequentes para o Centro e Norte do Brasil. As precipitações ficaram abaixo dos 50 mm na maior parte do estado gaúcho, apenas na faixa oeste houve acumulados um pouco superiores a estes (Figura 5). O mês de fevereiro foi um divisor de águas, pois a partir dessas condições meteorológicas, a maior parte das lavouras de soja no estado gaúcho estavam na fase reprodutiva, ou seja, no seu período crítico, começando a tornar as perdas irreversíveis.

Figura 5- Precipitação durante o mês de fevereiro de 2020 no Rio Grande do Sul. Fonte dos dados: INMET. Imagem: Anderson Haas Poersch
O mês de março/2020 se caracterizou até agora como o mês mais seco do verão gaúcho desse ano 19/20, com baixíssimos acumulados em todo o estado (Figura 6), agravando ainda mais a situação das culturas agrícolas, e confirmando a maior perda de produção de soja na história do RS. Além disso, essas condições atingiram a pecuária gaúcha, com a paralização do crescimento de pastagens naturais, e problemas no abastecimento de água para os animais, pois muitos reservatórios secaram.

Figura 6- Precipitação durante o mês de março de 2020 no Rio Grande do Sul. Fonte dos dados: INMET. Imagem: Anderson Haas Poersch
Por fim, temos um mapa que mostra as anomalias de precipitação para o período de novembro a março. Nesse mapa podemos visualizar a real situação que tivemos nessa safra agrícola, ou seja, tivemos e ainda estamos com um considerável déficit hídrico que vem impactando diretamente no rendimento de grãos do estado gaúcho. A maioria dos locais está com anomalias negativas superiores a 200 mm nestes 5 meses e em alguns se aproximando dos 400 mm (Figura 7). Esta safra ficou marcada pela irregularidade das chuvas, ou seja, muitas vezes com distribuição irregular e muito localizadas, tendo em vista que tivemos algumas ondas de calor excepcionais agravando a situação causando uma das maiores perdas na produção de culturas de grãos de sequeiro neste verão no RS.

Figura 7- Anomalias de precipitação durante os meses de novembro/2019 a março/2020 no Rio Grande do Sul. Fonte dos dados: INMET. Imagem: Anderson Haas Poersch
Vivemos um momento muito difícil para todos. No RS o problema se agrava em função da falta de chuva. Como Equipe FieldCrops, estamos ao lado dos produtores rurais para sairmos todos vencedores. Continuaremos nos esforçando para levar informações de qualidade nas nossas redes sociais.
Foto de Capa: lavoura na Agropecuária Cechin, Júlio de Castilhos/RS