Chuva (e a falta dela) durante o verão define safra de soja no RS


Por: Estudante de Meteorologia Anderson Haas Poersch e Equipe SimulArroz

Figura 1. Precipitação (mm) no verão 2017/18 (trimestre dezembro-janeiro-fevereiro) no estado do Rio Grande do Sul. A soja precisa de 800 mm bem distribuídos ao longo do ciclo para produzir bem. Fonte dos dados: INMET. Imagem: Anderson Haas Poersch

A chuva durante os meses de verão (dezembro, janeiro e fevereiro) é a principal causa da variabilidade internanual de produtividade de soja no RS. Os dados históricos da produtividade de soja nas últimas quatro décadas revelam bem o estrago que a falta de chuva durante a estação de cultivo faz na safra de soja. Na década passada, as safras 2003/2004 e, principalmente a safra 2004/2005, foram muito baixas, com a produtividade média do RS de 1,4 e 0,7 toneladas por hectare (24 e 12 sacos/ha), respectivamente. Aliás, a quebra na safra 2004/05 foi a pior da história do estado, empatando com a quebra da safra 1990/91. Nestes três casos, a falta de chuva foi o fator limitante para a lavoura.

Nos últimos cinco anos, no entanto, a safra de soja no RS foi excelente, graças à plena disponibilidade de água pelas chuvas em boas quantidades e bem distribuídas e ao avanço tecnológico e de manejo, o que fez com que os produtores gaúchos ficassem confiantes e apostassem cada vez mais na soja, fazendo com que a área cultivada crescesse a cada ano. A safra deste ano, que está na reta final de colheita e que tem um recorde de área semeada, nos relembra que os anos com boa disponibilidade de água não duram para sempre, principalmente na metade Sul, onde os solos têm menos capacidade de armazenamento de água e o normal é chover um pouco menos do que na metade norte do estado.

Figura 2. Anomalia de precipitação (mm) no verão 2017/18 (trimestre dezembro-janeiro-fevereiro) no estado do Rio Grande do Sul. Fonte dos dados: INMET. Imagem: Anderson Haas Poersch

O resultado desta safra, embora ainda não finalizada completamente, já está desenhado: a metade norte tem soja boa, principalmente quem semeou até 10/11, e a metade sul tem produtividades muito baixas. O que explica grande parte da diferença entre a metade norte e a metade sul nesta safra de soja é a quantidade de chuva que ocorreu no trimestre dezembro-janeiro-fevereiro (DJF). Por quê? É que este é o período mais crítico para a cultura da soja no RS, pois nestes meses a área foliar (área de todas as folhas da planta por unidade de área disponível para a planta crescer e explorar os recursos do meio) está se estabelecendo e os componentes de produtividade de grãos estão sendo definidos e, portanto, o potencial de produtividade da lavoura está sendo construído.

Veja como foi a distribuição da chuva durante o trimestre DJF no RS no mapa da Figura 1. Enquanto na metade norte choveu, em geral, de 300 a 600 mm, na metade sul choveu de 60 a 300 mm, com os menores volumes no extremo oeste, na Região Sul e na Campanha. E a soja precisa de 800 mm bem distribuídos ao longo do ciclo para produzir bem, conforme informações que estão no livro que a Equipe SimulArroz vai lançar em junho este ano no Congresso Brasileiro de Soja.

Na Figura 2 estão as anomalias de precipitação para o trimestre DJF. Anomalia é a diferença entre o que choveu e a chuva normal histórica do período. Podemos notar um contraste entre o centro norte e o centro sul do estado gaúcho, ou seja, neste período critico para a soja, as chuvas ficaram acima da média histórica em praticamente toda metade norte do estado, ficando em alguns pontos próximo a 200 mm de anomalia para o período (o que não significa que não possa ter ocorrido déficit hídrico em alguns momentos para as plantas, pois muitas vezes ocorreram fortes pancadas de chuva em pouco tempo de duração). Já na metade sul é o inverso, as anomalias foram muito negativas e em alguns pontos ficaram próximos a 250 mm neste período.