Por: Estudante de Meteorologia Anderson Haas Poersch e Equipe SimulArroz

Figura 1 – Carta sinótica do dia 16/06/2018. Fonte: Marinha Brasileira
Amanhã, 21/06, é o solstício de inverno no Hemisfério Sul, o dia mais curto do ano. Por isso, nesta época do ano é normal que temos grandes e fortes incursões de ar polar sobre a região Sul do Brasil. Por isso é provável que às vezes haja a formação de geada sobre algumas áreas do estado gaúcho, como aconteceu no último final de semana.
O que pode mudar é a intensidade da geada, que pode variar em função de alguns fatores meteorológicos, entre eles a intensidade da massa de ar polar atuante. É preciso também um sistema de alta pressão, ou seja, um anticiclone sobre a região, favorecendo um tempo mais seco, baixa umidade, entre outros.

Figura 2 – Imagem de satélite no Canal Visível do dia 16 de junho. Fonte: INMET
As condições meteorológicas estavam favoráveis para a formação de geada no último final de semana no RS. Pela carta sinótica da Marinha Brasileira (Figura 1), o estado gaúcho estava sob efeito de um forte sistema de alta pressão no domingo, 16, com praticamente todo o estado com pressão ao nível do mar acima de 1030 hPa, o que inibiu a formação de nuvens e deixou o tempo mais seco e sem nuvens sobre a região.
Na imagem de satélite no Canal Visível do dia 16 de junho das 14UTC (11 horas de Brasilia), podemos observar um tempo aberto sobre o RS, com praticamente nenhum tipo de nuvem sobre o estado (Figura 2), ou seja, pouca nebulosidade, que é umas das condições que pode favorecer a formação de geada.

Figura 3 – Cristais de gelo sobre superfícies secas, onde a geada é mais intensa
O tipo de geada que aconteceu nesses últimos dias no estado é a chamada geada de radiação, que é provocada pelo resfriamento intenso da superfície devido a perda de energia radioativa com noites de céu limpo, sem vento e baixa umidade. Quando esse resfriamento atingir a temperatura do ponto de congelamento da água, que é próximo de 0ºC, é possível ter a formação de cristais de gelo sobre as superfícies, principalmente as superfícies secas, como palha e galhos ou troncos de árvores expostas ao esfriamento (Figura 3). A formação de geadas já pode ocorrer quando a temperatura nas estações meteorológicas alcança valores inferiores a 3ºC, devido ao fenômeno da inversão térmica.
A sequencia de mapas de temperaturas mínimas no estado nos quatro dias que incluíram o último final de semana (15 a 18 de junho) está na Figura 4. Nestes quatro dias tivemos condições favoráveis para a formação de geada em praticamente todo o estado. Nos dias 17 e 18, houve um aumento de nebulosidade nas partes norte e leste do estado diminuindo as chances de formação de geada nessas áreas, mas no restante do estado as condições foram favoráveis para ocorrência de geada nos quatro dias.
Neste período de inverno, as temperaturas baixas têm vários efeitos benéficos na agricultura. Por exemplo, para os cereais de inverno (trigo, aveia, cevada, centeio), o frio tem efeito vernalizante naquelas cultivares que tem necessidade de vernalização para entrar na fase reprodutiva e também esse frio prolonga a fase vegetativa, de modo que o estabelecimento da área foliar ocorre de forma apropriada para interceptação da radiação solar usada na fotossíntese. A Equipe SimulArroz constatou durante esta semana lavouras de trigo no RS que estão em bom desenvolvimento e crescimento vegetativo, indicando que o frio está fazendo bem para a cultura.

Figura 4 – Temperatura mínima nos dias 15 (A), 16 (B), 17 (C) e 18 (D) de junho de 2018 ocorridas no estado do Rio Grande do Sul. Fonte dos dados: INMET. Imagens: Anderson Haas Poersch
Por outro lado, em árvores frutíferas como videira, pessegueiro, pereira e macieira, entre outras, o frio tem efeito de quebra de dormência, de modo que a floração e a brotação na primavera sejam homogêneas e garantam uma boa produtividade na próxima safra. Já para pragas e doenças, o frio invernal interrompe o ciclo dos agentes e diminui a população de pragas e a fonte de inoculo de doenças para o início da próxima estação de cultivo das culturas anuais de verão como o arroz e a soja.