Manejo das culturas de inverno para áreas arrozeiras


Por: Equipe SimulArroz

    Com a colheita do arroz e em condições bem drenadas, tanto a incorporação quanto a manutenção da palha do arroz sobre a superfície do solo facilitam a decomposição da palha, fazendo com que nutrientes como o nitrogênio e o potássio sejam facilmente perdidos com a água da chuva nos primeiros 40 dias após a colheita. Uma prática eficiente para a ciclagem destes nutrientes é o cultivo de espécies de inverno, mas em função do ambiente úmido e/ou alagado dos solos arrozeiros no RS, o cultivo no inverno não é uma tarefa fácil, pois poucas plantas se adaptam aos solos hidromórficos. Como a semeadura das espécies é agora no outono, neste momento o produtor de arroz deve decidir a melhor estratégia e a espécie de cobertura para o inverno.

Serradela nativa é uma leguminosa de inverno com boa adaptação aos solos de várzea e, para ter boa produção de massa vegetal, deve ser semeada cedo (março/abril). Foto: Mara Grohs.

    O azevém é a planta que mais se adaptada as terras baixas, sendo a principal e mais utilizada no RS em áreas de arroz irrigado no outono-inverno como planta forrageira e/ou cobertura de solo. O Técnico Superior Orizicola do 6º Nate do Irga de Santa Maria, Gionei Alves de Assis, destaca que o azevém, além da facilidade de adaptação em ambientes mais úmidos, tem duplo propósito, servindo tanto para proteção do solo, quanto pastoreio, o que agrega rentabilidade ao sistema. A produção de massa seca de azevém fica em torno de 3 a 7,2 t ha-1, sendo uma alternativa viável para a produção de feno e liberação de nutrientes para a cultura implantada em sucessão, desde que seja dessecado até 60 dias antes da semeadura do arroz. Esta estratégia de manejo é recomendada para diminuir a elevada quantidade de palha, que dificultará a perda de umidade do solo, somada à condição de má drenagem, características dos solos onde se cultiva arroz irrigado, podendo resultar em atraso na semeadura da lavoura de arroz, o que não é desejável.

    A cultura da aveia, preta ou branca, tem um potencial de produção de massa seca muito similar ao azevém, com relação C/N muito próxima, porém com digestibilidade menor. Para a Técnica Superior Orizicola 4º NATE do Irga de Cachoeira do Sul Mara Grohs, a principal vantagem da aveia em relação ao azevém é a possibilidade da escolha de cultivares com ciclo precoce, o que favorece a antecipação do pastoreio e a finalização do ciclo antecipadamente, não competindo com a época de semeadura do arroz ou da soja. Comparado ao azevém, é uma espécie com alta sensibilidade ao excesso hídrico, o que prejudica a instalação e os bons rendimentos em anos com precipitações mais frequentes.

    Entre as leguminosas, as espécies com maior destaque são serradela, cornichão e os trevos (branco, vermelho e vesiculoso), em função da sua adaptação aos solos de terras baixas e alta produção de massa seca. A serradela nativa (Ornithopus micrantus), deve ser semeada cedo (março/abril) para ter alta produção de massa seca e fixar até 120 kg de nitrogênio no solo. A serradela tem ressemeadura natural, porém é suscetível ao pisoteio e o produtor pode ter dificuldade de encontrar sementes no mercado. Apresenta boa adaptação aos solos de várzea e tolera teores de umidade elevados, tem bom sistema radicular e excelente nodulação. Além de incrementar a cobertura vegetal das várzeas no inverno, pode servir como fonte proteica para animais e beneficiar o sistema pela fixação do nitrogênio.

Leguminosas como a serradela nativa, que tem excelente nodulação, tem alta capacidade de fixação do nitrogênio atmosférico através de bactérias fixadoras. Foto: Mara Grohs.

    Os trevos (vermelho e vesiculoso) e o cornichão apresentam um bom potencial para produção em área de terras baixas. Trabalhos realizados com diferentes espécies de plantas de cobertura, com pastejo e sistema de drenagem, indicam que o trevo branco e o cornichão apresentaram redução de plantas de 30 a 46% da emergência até o final do pastejo. O trevo branco e cornichão podem fixar entre 120 e 150 kg/ha/ano de nitrogénio atmosférico, contribuindo para o crescimento das gramíneas consorciadas.

    Para a implantação das culturas de inverno, as estruturas superficiais de macro e micro drenagem da lavoura devem ser planejadas para facilitar ao máximo e rapidamente a drenagem das águas das chuvas. A semeadura pode ser realizada a lanço por via terrestre ou aérea, em linha em solo preparado, ou quando o arroz for colhido com o solo seco também pode ser com plantio direto sobre a palha do arroz quando o solo tiver umidade adequada (apresentar “condições de piso”). O produtor deve ter cuidado especial para prática de correção do pH do solo, principalmente quando optar por espécies leguminosas. Essas práticas de manejo que inserem culturas de inverno, e em sucessão, dentro do sistema de produção de terras baixas colaboram ao longo dos anos para a construção da fertilidade dos solos arrozeiros.