Por: Equipe SimulArroz

Dano em milho causado por granizo. Foto: Alan Lovato – Cachoeira do Sul.
A primavera é a estação das flores, mas também é a estação do ano que mais sentimos a força dos eventos meteorológicos extremos, como o granizo. Tanto no campo como na cidade, uma tempestade com granizo pode trazer muitos prejuízos. A moradora do município gaúcho de Segredo Jalusa Faller, presenciou chuva de granizo na madrugada do último dia 11/10/2017. Segundo Jalusa, “foi só chuva de pedra e as casas foram bastante danificadas, principalmente o telhado”. Na agricultura não é diferente, pois as lavouras estão expostas a todos os tipos de intempéries, e quando o assunto é granizo as perdas podem ser totais. Nas últimas duas semanas tivemos muitas notícias de danos em lavouras gaúchas de trigo e milho devido a ventos fortes e granizo. Foi o caso de uma lavoura de 30 hectares de milho no município de Cachoeira do Sul que, na tarde do dia 01/10/2017, sofreu danos muito fortes com uma chuva de granizo e vento forte. “Em duas semanas o milho ia florescer, agora temos que ver qual vai ser o prejuízo”, relatou o proprietário Alan Lovato.
O granizo é uma das formas pelas quais a água que está na atmosfera cai (precipita) até a superfície do solo no nosso planeta. As outras duas formas de precipitação da água são a chuva (na forma líquida) e a neve (na forma sólida). Assim, o granizo e a neve são as duas formas de precipitação de água na forma sólida (gelo) da atmosfera para a superfície do solo. A precipitação da água da atmosfera para a superfície do solo, em qualquer forma (líquida ou sólida) é parte do ciclo hidrológico (ou ciclo da água) no planeta.

Imagem do radar meteorológico de Santiago/RS (SNTG) de uma tempestade com granizo no dia 14/10/2015.
Segundo o Professor do curso de Meteorologia da UFSM Ernani Nascimento, o sul do Brasil é uma das regiões do mundo onde mais ocorre granizo de tamanho destrutivo (maior que 5 cm). “O granizo é formado por correntes verticais intensas e altamente turbulentas dentro de nuvens de tempestades de grande extensão vertical as quais atingem as camadas mais altas da troposfera (acima de 8-9 km de altura) onde a temperatura do ar apresenta valores bem abaixo de 0°C. Existe uma faixa de temperaturas negativas onde coexistem o gelo e a água super-resfriada, isto é, gotas d´água que estão a temperaturas abaixo de 0°C mas ainda não congeladas. O granizo cresce dentro desta faixa de temperatura pela colisão entre os ‘embriões’ de granizo com as gotas super-resfriadas que finalmente se congelam ao aderirem com a superfície do gelo. Sem exceção, todas as tempestades produzem granizo em seu interior, mas nem sempre o granizo adquire tamanho suficiente para atingir a superfície antes de seu total derretimento nas camadas mais baixas da atmosfera onde as temperaturas são acima de 0°C” explica o professor Ernani. “Boa parte da chuva intensa observada durante uma tempestade advém do total derretimento do granizo e de outras formas de gelo geradas pela tempestade. Apenas tempestades de grande intensidade, chamadas de TEMPESTADES SEVERAS, geram granizos de dimensão suficiente para chegar em superfície com tamanho acima de 2cm. Não é raro estas tempestades serem também acompanhadas de rajadas de vento intensas” complementa o professor Ernani.

Dano em veículo causado por granizo. Crédito da foto: Rádio Terra Venâncio Aires.
A época do ano também é um fator principal no registro de granizo. “Na Região Sul do Brasil, granizo grande pode ocorrer em qualquer época do ano mas estudos mostram que o período de ocorrência mais frequente de granizo destrutivo é o trimestre que vai do final do inverno (setembro) à quase o final da primavera (final de novembro) e por isso este é o período considerado de maior probabilidade de ocorrência de danos por granizos” explica o professor. Ou seja, estamos exatamente no meio do período do ano mais propício à granizo com alto poder destrutivo.
O monitoramento dos eventos de granizo é através de diferentes ferramentas. O professor Ernani indica que “o radar meteorológico é uma das principais ferramentas de monitoramento de tempestades geradoras de granizo”. Como exemplo o professor explica que na imagem do radar meteorológico de Santiago/RS (SNTG), operado pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo da Aeronáutica, aparece uma tempestade severa que gerou granizo de grandes dimensões na região central do Rio Grande do Sul na tarde de 14 de outubro de 2015 (Imagem acima). “Esta mesma tempestade causou dano pelo granizo em um veículo na BR-153 no Município de Cachoeira do Sul.”, concluiu o professor Ernani.
Crédito da foto de capa do post: Jalusa Faller – Segredo, RS.