A “boa” safra gaúcha de milho e soja


Por: Equipe SimulArroz

Relação entre produtividade de soja e quantidade de água para a lavoura. Os pontos que estão próximos da função limite (curva) não sofreram limitação por água e de outros fatores. Já os pontos distantes da função limite muitas vezes tiveram alta quantidade de chuvas e mal distribuídas ou outro fator de manejo limitou que fossem alcançadas altas produtividades. Fonte: ZANON et al. Agronomy Journal, v. 108, p. 1447-1454, 2016.

    Aproxima-se o fim da safra 2016/2017, e o Rio Grande do Sul está próximo a atingir uma safra histórica de produção de grãos, com registro de produtividades acima da média, sobretudo para milho e soja. Mas qual o motivo de produtividades tão altas?

    Vamos iniciar a contextualização com o ano agrícola 2015/16. Durante a safra 2015/16 as precipitações foram excelentes e na maioria das regiões produtoras de grãos não houve déficit hídrico. Como a maior parte da área cultivada com milho e soja é realizada em sequeiro, e com limitações físicas para o crescimento de raízes devido à compactação do solo, a água, na maioria dessas lavouras, é o principal insumo que limita a obtenção de altas produtividades. Quando a água deixa de ser um fator limitante, a lacuna de rendimento diminui, ou seja, a produtividade dos cultivos de verão como soja e milho fica mais próxima do teto produtivo, representado pela parte superior da curva no gráfico. Com boa disponibilidade hídrica (quantidade e distribuição ao longo do ciclo de desenvolvimento), o principal fator limitante para atingir tetos de produção passa a ser o manejo das lavouras, devido aos níveis de fertilidade de solo e do controle inadequado dos fatores bióticos, como plantas daninhas, pragas e doenças.

Produtividades de soja nesta safra 2016/17 aumentaram em relação à safra anterior na média do RS. Foto: Alan Lovato – Cachoeira do Sul

    Os motivos que justificam o manejo deficiente são muitos, desde a falta de recursos financeiros para a compra de insumos, até o uso de implementos defasados, com falta de manutenção e, em muitos casos, mão de obra insuficiente para o manejo. Mesmo assim, a produtividade média de milho aumentou da safra 2014/15 para a 2015/16 em 660 kg/ha enquanto que a produtividade de soja foi mantida em aproximadamente 2.950 kg/ha. O grande diferencial da safra 2015/16 no RS foram os preços que, para a primeira semana de maio de 2016, cotou a saca de 60 kg de milho em R$47,00 e de soja em R$78,00. Essa conjuntura de boa produtividade e bons preços trouxe alento e permitiu um retorno financeiro razoável aos produtores de milho e soja. O primeiro impacto dessa conjuntura é o aumento de investimentos, através da compra de máquinas, implementos agrícolas, sistemas de irrigação e sistemas armazenagem de grãos.

Soja colhida em grande quantidade tem preço menor este ano. Foto: Alan Lovato – Cachoeira do Sul

Prova disso foi a Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque – RS, onde o volume comercializado em 2017 foi 34% superior ao comercializado em 2016 e a feira atingiu recorde de visitantes, com 240 mil pessoas. Em um segundo momento, há maior investimento em insumos, como calcário para correção de solo, fertilizantes para manutenção dos níveis de fertilidade e, principalmente, em genética de plantas, que permita aumentar o teto produtivo e/ou melhorar o controle de fatores bióticos. O resultado de toda essa conjuntura, aliada a regularidade pluviométrica ao longo da safra 2016/17 foi o aumento da produtividade de milho e soja, até o momento, em aproximadamente 6%. Essa safra acima da média expôs o tamanho da fragilidade da infraestrutura atual para escoamento, armazenagem e exportação de grãos.

    Porém, o principal fator que tem angustiado os produtores não é esse. O preço médio da saca de 60 kg milho no Estado está cotado em R$22,00 e o de soja em R$ 58,00 (lembre-se que em maio de 2016 os preços eram R$47,00 e R$78,00, respectivamente). Na prática, significa que o produtor de milho que produziu 120sc/ha em 2015/16 precisará produzir 256sc/ha na safra 2016/17 para receber o mesmo valor bruto, em reais (sem considerar custos). Já o produtor de soja que produziu 60sc/ha em 2015/16 precisará produzir 80sc/ha na safra 2016/17 para receber o mesmo valor bruto, em reais (sem considerar custos). Enfim, o momento nos mostra que não será fácil aumentar a produtividade de milho e soja na safra 2017/18, mas também aponta falhas de planejamento. Por isso, é necessário que os produtores rurais, os componentes da cadeia produtiva de grãos e, sobretudo o Estado, reflitam sobre a situação atual dessa cadeia com vistas a evitar a repetição de erros do presente no futuro.